Projeção do setor é de entrarem no país 5 milhões de toneladas em 2023, oriundas de China, Rússia, Coréia do Sul e outros países da Ásia
O mercado brasileiro de aço deve fechar o ano com recorde histórico de importação – cerca de 5 milhões de toneladas, ou até mais. A estimativa é do Instituto Aço Brasil, que acaba de fechar os dados de setembro. Os números mostram que o país continua a ser inundado com material importado. No mês passado, o volume oriundo de China e outros países, como Rússia, Coreia do Sul e Turquia, subiu 138%, comparado com um ano atrás. No ano, as importações de aço plano, longo, especiais e outros tipos tiveram salto de 58%.
O maior volume registrado no país foi em 2010, com cerca de 4,4 milhões de toneladas, num momento que o PIB brasileiro crescia na faixa de 7%. Até setembro, entraram no país 3,73 milhões de toneladas. Mas o ritmo, mesmo arrefecendo em dezembro, pode ficar numa média superior a 400 mil toneladas por mês no último trimestre, avalia a entidade.
Conforme o Aço Brasil, que reúne as siderúrgicas instaladas no país, na contramão as vendas internas recuaram 5,9% no mês passado. No acumulado, até setembro, foi registrada queda de 5,4% na mesma base de comparação.
Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Aço Brasil, comentou os números do balanço que será divulgado neste terça-feira (24). Disse que retratam o agravamento da situação que vive o setor siderúrgico no país. “Se nada for feito, certamente haverá consequências ruins na cadeia produtiva do setor de transformação”, afirmou.
“Considerando a importação direta de aço mais produtos contendo aço, o volume corresponde a duas usinas siderúrgicas integradas”, afirma o dirigente.
A aceleração das importações a partir de abril tornou-se o “fantasma” das siderúrgicas locais. Por quê não dizer, o dragão. O aço chinês lidera as compras de consumidores locais, sob argumentos de que os produtos chegam ao país com preços mais em conta, mesmo considerando fretes e taxas alfandegárias. Do volume que entrou em setembro (549 mil toneladas), 56% veio da China. “A China não esconde que está produzindo em ritmo firme e com exportações de 100 milhões de toneladas/ano para desovar excedentes que sua economia não consome”, diz Lopes.
Lopes afirma: “a competição é com o Estado chinês, dono da maioria das siderúrgicas que operam com margens negativas, pois praticam preços inferiores à realidade de custos. Além disso, o governo oferece subsídios e incentivos às empresas, mais preocupado em garantir empregos locais”.
“Diante dessa situação, o que estamos pleiteando ao governo é uma medida emergencial de proteção, pelo período de um ano, de 25% de alíquota de importação”, diz Lopes. Ele afirma que o objetivo é preservar mercado interno. “Não se prevê qualquer alta de preço em decorrência disso”, diz.
Segundo ele, a taxa de penetração de aço importado no consumo aparente local em setembro atingiu 23,2%, quase o dobro da média de 2013 a 2023, que foi de 12,3%.
Esse cenário foi levado ao ministro da Fazendo, Fernando Haddad, e seus secretários, na sexta-feira, em apresentação que durou uma hora e meia. “O ministro ficou sensibilizado com a situação do setor e procurou saber mais informações do comportamento das exportações chinesas”. O encontro com Haddad se segue a outros realizados com o ministro do MDIC, Geraldo Alckmin.
“O governo federal está ciente da situação existente, do agravamento que ocorre e das consequências que poderão vir se nenhuma medida de peso for tomada no curto prazo”, disse Lopes. Ele aponta, por exemplo, fechamentos de usinas siderúrgicas (algumas já paralisadas e outras com baixa ocupação de capacidade), corte de pessoal, desabastecimento de aço e desarranjo das cadeias produtivas.
Lopes reafirma que as sobretaxas sobre importações no Brasil estão desalinhadas em relação a outros países – EUA e União Europeia adotaram 25% mais cotas, mesmo percentual praticado pelo México e em avaliação no Chile. A alíquota de importação no Brasil é de 9,6%. “É uma baixíssima proteção, considerando que outros mercados da regão estão fechados ao aço chinês. E quase nula para 40% do aço que entra via portos de Santa Catarina, que reduz o ICMS de 12% para 4%”, diz.
Em setembro, a produção de aço bruto no país ficou em 2,53 milhões de toneladas – menos 9,3% (há que se ressaltar que o principal alto-forno da Usiminas está em reforma desde abril e a volta é prevista para o fim deste mês ou início de novembro). A última previsão para o ano é 32,4 milhões de toneladas – menos 5% em relação ao ano passado.
As exportações subiram 1,4% em setembro, mas no ano registram queda de 4,4%. A projeção de embarques para 2023 é de 11,9 milhões de toneladas (menos 0,3%, ante previsão de aumento de 7,6% feita em abril).
O consumo aparente, com aumento das importações, foi 8,5% maior em setembro e subiu 0,5% no acumulado de nove meses. A estimativa é encerrar o ano em queda de 1,5%, somando 23,2 milhões de toneladas de produtos siderúrgicos. “Um grande problema é a estagnação do consumo per capita de aço no Brasil, que cresceu mirrados 5,5% desde 1980. No Chile subiu 117% e no México, 70%, enquanto a média mundial, foi de 74%”, diz Lopes.
Fonte: https://acobrasil.org.br/site/noticia/importacoes-de-aco-vao-atingir-recorde-no-ano/